Islândia, 19 março [dia 1]
O primeiro vislumbre foi de encanto, ali estava a ilha banhada pelo oceano atlântico norte, 64ºN, branca de neve, a fazer jus ao seu nome, a Terra de Gelo.
Fui acolhida pelo frio glaciar mas em dia soalheiro, pouco habitual para estas paragens, que me permitiu, após chegar a Reykjavic, caminhar ao encontro dos colegas de curso, um total de 75 vindos de 16 diferentes países. Rostos curiosos e expectantes, dos cantos da europa, procurando conhecer quem estava ao lado, para partilhar experiências e quiçá, projetar futuras colaborações.
Aqui conhecemos o programa do curso e o que se esperava de nós. Fomos organizados para as visitas a escolas em Reykjavic, atendendo as especialidades de ensino e divididos por 4 grupos.
Islândia, 20 março [dia 2]
Sem surpresas o dia nasceu frio e cinzento. Encontro marcado às 9 horas no anfiteatro da Universidade da Islândia para os seminários do dia, ‘História e sociedade da Islândia’ e ‘O sistema de educação da Islândia’.
Historiadora e deputada, Erla Ragnarsdóttir percorreu os tempos desde que a inóspita ilha foi colonizada pelos corajosos Vikings, em 870, até aos dias de hoje, com os seus 338 mil habitantes. Proclamada república em 1944 tornou-se independente dos dinamarqueses e antes destes fizeram parte da Noruega. Uma república muito jovem, mas com o primeiro parlamento de que reza a história, situado no Parque Nacional de Þingvellir, um local a visitar.
Historiador e reitor, Magnus Thorkelsson apresentou a organização do sistema de educação islandês. Dentro de certos ditames, as escolas têm autonomia para ajustar os currículos às necessidades dos alunos, que no final da escolaridade obrigatória, aos 16 anos, prosseguem quase todos para o ensino secundário. Sem exames nacionais, concluem o ensino secundário com a realização de exames ao nível da escola. O ano letivo está organizado por semestres e os períodos de férias são semelhantes aos nossos, regidos, tal como nós, pelos principais eventos católicos.
A tarde foi de convívio e passeio pela cidade…
Islândia, 21 março [dia 3]
Às 8.30 fomos calorosamente recebidos pela diretora da escola Háaleitisskóli-Álftamýri, Hanna Birgisdóttir. Escola inclusiva e multicultural com 510 alunos dos 6 aos 16 anos, na escolaridade obrigatória. Acolhedora, a escola faz justiça à forte cultura artística dos islandeses, com telas, painéis, placards, cartolinas, etc., incólumes nas paredes, a marcar a presença de alunos de 20 diferentes nacionalidades pela escola.
Além das demais disciplinas, Ciências domésticas (carpintaria, costura, cozinha, artes visuais, etc.) ocupa 3 tempos semanais preparando os alunos para as lides do Lar.
Após o almoço encontro marcado no Þjóðminjasafn Íslands, Museu Nacional da Islândia e dedicado à história e cultura, bastante etnográfico, com artefactos dos tempos dos Vikings até à atualidade, incluindo ferramentas agrícolas, móveis e barcos de pesca.
Islândia, 22 março [dia 4]
Manhã gelada pelo manto branco, nova escola e nova paragem, Klettaskóli-sérskóli está vocacionada para alunos com necessidades educativas especiais, dos 6 aos 16 anos. O diretor Árni Einarsson recebeu-nos para a seguir nos entregar à principal impulsionadora do projeto, a deputada Valgerour Marinósdóttir. Os 125 alunos com deficiências mentais, autismo, cegueira, surdez e outras deficiências graves, que os tornam dependentes de outros, estão entregues a uma equipa com recursos que intentam torná-los o mais independentes possível, treinando as suas capacidades sociais, motoras e cognitivas, recorrendo aos mais variados recursos. A ideologia da escola assenta na Igualdade e Equidade.
Rumo a Reykjanes Peninsula, o projeto de campo levou-nos à ponte entre continentes, Leif the Lucky Bridge, onde pisamos um dos raros locais do planeta onde se vê a divergência de duas placas tectónicas, a euroasiática e a americana, que se afastam acima do nível do mar. A ponte situada sobre a grande fissura foi construída como um símbolo de união entre a Europa e a América do Norte.
Prosseguimos para sul em direção a Reykjanestá, uma encosta escarpada de lava, virada para o atlântico, pejada de pássaros e sinalizada pelo farol de Reykjanes…
Ainda nesta península, visitámos a região geotermal de Gunnuhver onde as portas para o interior da terra se abrem e a energia geotérmica se mostra com toda a sua força. A região é magnífica, sulcada de crateras de lama onde o vapor de água em ebulição se mistura com água superficial formando lindas lagoas. São abundantes os gases que se libertam, entre eles distingue-se, pelo seu típico odor a ovos podres, o sulfureto de hidrogénio …
A finalizar o nosso passeio, fomos às nascentes termais na região de Grindavík …
Mas a caminho de Reykjavik ainda nos estava reservada uma última surpresa, uma lagoa de areias negras na cratera de um vulcão extinto…
Islândia, 23 março [dia 5]
Com o despontar do dia retomo a minha caminhada matinal, desta vez a uma das maiores escolas secundárias de Reykjavic, Menntaskólinn við Hamrahlíð. Com 1200 alunos de 16 a 19 anos, esta escola de elite prepara-os para a universidade em áreas como as ciências, as línguas, as sociologias, o direito, a música, o ballet e, a mais popular, o curso aberto, onde os ainda indecisos podem escolher o próprio curriculum dentro dos seus interesses. A receber-nos, o director Lárus Bjarnasson, mostrou-nos como está organizada a escola que adoptou o modelo de educação progressiva.
Islândia, 24 março [dia 6]
Dia dedicado por inteiro ao projeto de campo Gullni hringurinn, o ‘Círculo dourado’. Com partida e chegada a Reykjavic, passa pelo Parque Nacional de Þingvellir, pelo vale com atividade geotérmica de Haukadalur e pela queda de água de Gullfoss, totalizando aproximadamente 300 km.
O Parque Nacional de Þingvellir é um vale situado no sudeste da ilha e considerado um dos lugares históricos mais importantes do país pois foi aqui que o seu 1º parlamento foi fundado, datava o ano de 930. Este parque foi proclamado Património da Humanidade em 2004. É claramente visível a deriva continental neste lugar pelas falhas que atravessam a região.
O Rio Öxará atravessa o Parque e forma uma cascata no Almannagjá, chamada Öxarárfoss.
Haukadalur é uma área geotérmica famosa pelos seus géiseres, sendo Strokkur e Geysir os maiores. Strokkur entra em erupção a cada 5 a 10 minutos, enquanto o maior, Geysir, raramente entra em erupção. Existem ainda mais de 40 nascentes de água quente, crateras de barro e fumarolas.
Gullfoss é uma gigantesca catarata localizada no desfiladeiro do Hvítá, rio que nasce no Hvítárvatn, lago glaciar no Langjökull, nas terras altas da Islândia. O rio corre 40 km antes de entrar no estreito desfiladeiro e mergulhar abruptamente numa fenda de 32 metros de profundidade, que se estende perpendicularmente ao fluxo do rio, parecendo desaparecer da face terra…
A força da natureza em todo o seu esplendor!!!
Islândia, 25 março [dia 7]
Última manhã em Reykjavik e já se faz tarde para apanhar o barco …
Talvez seja melhor apanhar o avião e estes mares deixo-os para os Vikings …